Luzia nasceu em Siracusa, na Sícilia, ilha do Mediterrâneo que hoje faz parte da Itália, no ano de 283. Na época, o cristianismo era perseguido pelo governo romano. Sua família, contudo, era cristã e, ao que consta, gozava de uma vida de riquezas.
“O pai, que se chamava Lúcio, morreu quando ela ainda era muito jovem”, conta o estudioso de cristianismo antigo Thiago Maerki, pesquisador na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e associado da Hagiography Society, nos Estados Unidos.
A pequena órfã passou a infância dedicando-se aos cuidados da mãe, Eutíquia, que sofria de graves hemorragias internas. Certa vez, a menina peregrinou até a cidade de Catânia, também na Sicília, para rezar pela saúde da mãe na tumba de Santa Águeda (235-251).
Ali, teve uma epifania e, acreditando que Deus curaria sua genitora, Luzia decidiu consagrar sua vida ao
cristianismo, fazendo voto de virgindade.
“A esse tempo, ela estava prometida em casamento com um jovem pagão, e queria se livrar desse compromisso”, diz Maerki.
“Sua mãe, adoecida, desejava o seu casamento com um fidalgo da nobreza. No entanto, isso a desagradava, pois ela queria viver em castidade na consagração a Deus e ao seu Senhor, como cristã”, completa Gasques.
“Segundo a tradição, Santa Águeda não apenas lhe curou a mãe, mas também lhe revelou que sofreria o martírio e seria venerada em toda a Siracusa”, comenta o pesquisador e escritor J. Alves, membro da Academia Brasileira de Hagiologia e autor do livro Os Santos de Cada Dia e de Santa Luzia.
De acordo com Maerki, após essa cura, a mãe dispensou a menina de cumprir o casamento prometido.
A partir dali, não só Luzia se dedicaria a Deus como também não teria mais receio de expôr sua cristandade, então vivenciada apenas na clandestinidade.
“Santa Luzia foi uma mulher corajosa, que escolheu viver na fé e arriscar sua vida ao assumir a condição de seguidora de Jesus, em um tempo em que isso era considerado crime grave”, diz Alves.
Essa conduta da moça, contudo, desagradou o jovem que queria desposá-la.
Contrariado, o jovem pretendente decidiu denunciá-la ao procônsul Pascásio — na estrutura romana, procônsul era o magistrado encarregado de administrar cada província, como um governador ou um prefeito.
A questão dos olhos, de acordo com o hagiólogo, teria sido uma construção tardia.
“Trata-se de uma tradição lendária que surge na Idade Média, e é por meio dessa lenda que Santa Luzia acaba sendo considerada a protetora da visão”, argumenta Maerki.
“Diz-se que na verdade ela tinha os olhos muito bonitos e que isso perturbava o pretendente dela. Diante disso, ela teria arrancado seus olhos e oferecido a ele em uma bandeja. Por milagre, imediatamente um novo par de olhos surgiu em seu rosto.”
De acordo com essa versão, o pretendente teria ficado impressionado com o que acabara de presenciar e, por conta disso, acabaria aderindo ele também ao cristianismo.
“Outra tradição é que Pascásio teria ordenado a seus soldados que arrancassem os olhos de Luzia e, quando eles assim o fizeram, Deus teria concedido a ela novos olhos ainda mais bonitos do que os arrancados pelos soldados”, relata Maerki.
fonte: bbc.com