A disparada do dólar no final de 2024 deu lugar a uma série de quedas neste início de ano. A moeda norte-americana encerrou o primeiro dia útil de 2025 a R$ 6,16, mas chegou a R$ 5,77 no fechamento desta terça-feira (4). O recuo é de 6,76% no período, com os últimos 12 dias seguidos de baixa.
Eventos da economia nacional e global estão por trás das movimentações da moeda. Mas o atual centro das atenções está nos Estados Unidos, com o retorno de Donald Trump à Casa Branca.
Trump foi eleito com promessas de impor tarifas de até 60% sobre produtos importados da China, além de taxas de 25% sobre México e Canadá. Todos são importantes parceiros comerciais dos norte-americanos.
Até agora, no entanto, o tom do republicano tem sido menos agressivo, e as medidas não se concretizaram — ao menos não nas proporções esperadas. Isso fortaleceu moedas de países emergentes, como o real. (entenda mais abaixo)
Um levantamento de Einar Rivero, da Elos Ayta Consultoria, mostra que a moeda brasileira foi a segunda que mais se valorizou em relação ao dólar entre 27 países em janeiro. O real só perdeu do rublo russo, que disparou 12,09% no mês.
Para especialistas ouvidos pelo g1, quatro principais fatores ajudam a explicar a melhora neste início de ano:
- A postura de Trump;
- A alta de juros no Brasil;
- A diminuição do estresse doméstico;
- A queda do risco geopolítico.

A postura de Trump
Donald Trump surpreendeu especialistas e parte do mercado financeiro ao adotar uma postura mais pragmática e menos agressiva em relação à China, sua grande adversária geopolítica.
Durante a corrida eleitoral, o republicano prometia tarifas imediatas e de até 60% sobre produtos importados chineses. Após eleito, no entanto, o tom tem sido mais ameno.
“Quando Trump grita alto e depois senta para conversar, mais um risco é retirado — ou ao menos amenizado —, que é o de ter uma economia americana mais protecionista”, diz Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating. “O risco seria de alta da inflação nos EUA, o que fortaleceria o dólar.”
Apesar de as tarifas contra os produtos chineses terem sido aplicadas nesta terça-feira, elas vieram menores do que o esperado, de 10% sobre as importações do país.
Em resposta, a China anunciou tarifas de 15% para gás natural e 10% para petróleo bruto dos EUA, além de equipamentos agrícolas e alguns automóveis, com início previsto para 10 de fevereiro.
Com o México e o Canadá, Trump adotou um tom de ameaça, mas sem aplicação concreta de taxas. Na última sexta-feira (31), os EUA confirmaram a cobrança de 25% sobre produtos importados desses dois países. Mas, na segunda-feira (3), foram anunciadas suspensões por 30 dias.
A presidente do México, Claudia Sheinbaum, foi a público afirmar que havia chegado a um entendimento com Trump. Como parte do acordo, ela afirmou que o México irá reforçar a fronteira entre os países com 10 mil membros da Guarda Nacional para impedir o tráfico de drogas.
O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, anunciou um acordo semelhante. Disse que a suspensão de tarifas entre os países envolve um plano de US$ 1,3 bilhão para reforçar a fronteira com os EUA e “interromper o fluxo de fentanil” ao país.
Os recuos de Trump na questão tarifária têm se refletido de forma positiva no mercado financeiro, que esperava medidas duras de protecionismo econômico. A quebra de expectativa fez os agentes reavaliarem as apostas de investimento.
“Trump tem mordido menos do que latido”, diz Gustavo Jesus, sócio da RGW Investimentos. Para ele, além disso, o Brasil é menos impactado do que os outros países em uma eventual guerra comercial.
“Temos uma economia ainda muito fechada. E a nossa pauta de exportação é mais diversificada, não depende tanto dos EUA”, acrescenta.
Mas por que a imposição menor de tarifas está enfraquecendo o dólar? Taxas de importação e outras promessas de Trump, como sua política anti-imigração, têm potencial de gerar mais inflação nos EUA.
São motivos que fazem o Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, ter mais dificuldade de controlar os preços, e aumentando as chances de que tenham que manter os juros elevados no país.

Juros mais altos por lá fazem os títulos públicos norte-americanos renderem mais. Investidores se animam, levam recursos para os EUA e o dólar se valoriza frente a outras moedas. Esse conjunto de eventos altera o fluxo de investimentos no mundo todo.
Quando o movimento não se confirma, o cenário é de alívio para as moedas emergentes, incluindo o real.
“A tendência é de um dólar mais fraco, porque a economia norte-americana tende a não ser tão inflacionária quanto seria com tarifas a produtos importados”, diz Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos.
Alta de juros no Brasil
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) confirmou, em 30 de janeiro, a elevação da taxa básica de juros brasileira em 1 ponto percentual (p.p.), para 13,25% ao ano.
A elevação da Selic já era esperada por grande parte do mercado financeiro, após uma indicação do próprio BC, feita em dezembro. Como a inflação está voltando a acelerar no país, o Copom também prevê uma nova alta na taxa na próxima reunião.
Quando os juros sobem, os títulos de renda fixa brasileiros melhoram sua rentabilidade e ficam mais atrativos a investidores estrangeiros. Essa entrada de dólares tende a fortalecer o real.
Helena Veronese destaca o tom mais duro na ata do Copom, divulgada nesta terça-feira, em que o BC afirma que as expectativas de inflação aumentaram de forma significativa nos últimos meses, tanto a curto quanto a longo prazo.
O BC também observou uma elevação significativa no preço médio dos alimentos, devido à estiagem e à elevação de preços de carnes. Segundo o BC, eles tendem a se propagar para os próximos meses.
“O cenário de inflação deteriorada se traduz em um Copom que vai manter juros mais altos e, eventualmente, aplicar novas elevações. A curva de juros, por exemplo, passou a precificar uma Selic ainda maior neste ano”, diz.
Enquanto os EUA estiverem reduzindo suas taxas de juros, o dinheiro tem mais chance de caminhar para os investimentos mais arriscados, incluindo os países emergentes, acrescenta Veronese. “Quanto maior o diferencial de juros, mais ficamos atraentes para os investidores internacionais.”

fonte: g1