Treta (Netflix)
Essa minissérie (ou série, nunca dá pra ter certeza) foi a coisa mais divertida, tensa, maluca e, por que não?, bonita do ano. Começa com uma briga de trânsito totalmente idiota e sem maiores consequências – tirando que a briga era só talvez o sentido que faltava na vida de um empreendedor falido e uma empresária bem-sucedida e entediada com sua vidinha perfeita. O roteiro evolui de um jeito bem inesperado, a briga sem sentido ganha proporções homéricas, acaba envolvendo famílias, empregos, sexo, criminosos e outras coisas mais – mas nem tudo é treta, e a serie ainda nos presenteia com um dos mais belos diálogos nonsense-chapados da década. A melhor coisa feita pela Netflix desde “Bojack Horseman”.
2. Reservation Dogs (Star +/Globoplay)
Esta série apareceu aqui no ano passado e volta agora com seu terceiro e último ano, que confirmou seu lugar definitivo na minha lista de melhores séries da vida. O cotidiano numa reserva indígena no interior dos EUA sob o ponto de vista de um grupo de amigos adolescentes ganhou episódios divertidíssimos centrados nos anciãos da comunidade, a temporada trouxe de volta os maravilhosos personagens ancestrais e míticos e, mais importante que tudo, continua com seu finíssimo e afiadíssimo humor indígena.
3. Somebody Somewhere (HBO Max)
“Somebody Somewhere” é uma seriezinha linda e despretensiosa sobre encontrar seu lugar, escolher sua família e viver, plenamente, uma vidinha mais ou menos. A segunda temporada consegue ser melhor que a primeira – o último episódio, inclusive, é a coisa mais bonita que eu vi este ano na TV.
Como no primeiro ano da série, quase nada acontece: apenas assistimos ao cotidiano meio monótono dos protagonistas – uma mulher com seus 40 e tantos, meio deprimida e se sentindo deslocada na vida, que encontra na amizade com um cara gay (também meio deslocado) e uma comunidade queer sua segunda (e melhor) família. Amigos, amores, bebedeiras, ciúmes, perdas, tretas e piadas com diarreia numa cidadezinha no interior do Kansas. Pra que a gente quer mais que isso?
4. Only Murders in the Building (Star+/Globoplay)
Mais uma temporada belíssima desta série que não sai do meu rol de favoritas. Os caras conseguiram fazer um nova temporada nada repetitiva sobre outro assassinato no fictício edifício Arcadia, e o trio Steve Martin, Martin Short e Selena Gomez está mais afiado do que nunca. Daquelas séries em que cada episódio é um evento – nem a abertura eu pulava, tamanho o prazer que me dava assistir toda semana. Ansiosa para a quarta temporada.
5. A Maravilhosa Mrs. Maisel (Prime Video)
A última temporada da série sobre a vida da maravilhosa comediante Midge Maisel e sua jornada para ser reconhecida com um grande talento da comédia stand-up dos anos 60 tem até umas barrigadas no meio, mas termina de um jeito tão bonito, tão emocionante, com piadas tão tão boas, que eu queria um dia encontrar a Amy Sherman-Paladino, criadora da série, dar um abraço nela e dizer “obrigada por tudo”. Está pra nascer uma série tão bem feita, linda, caprichada, bem escrita e perfeita. Desculpa se estou soando emocionada, essa série é uma obra de arte.
6. Party Down (Lionsgate)
A comédia sobre um serviço de catering em que os garçons são todos aspirantes a ator ou roteirista (ou atores e roteiristas fracassados) em Hollywood era uma daquelas séries excelentes que lamentavelmente quase ninguém viu. E aí, 13 anos depois, os caras resolveram reviver a série – e não é que foi uma das melhores comédias do ano?
O mesmo humor irônico e meio deprê funcionou perfeitamente e talvez melhor ainda com os mesmos personagens mais velhos e mais fracassados. Eu revi as duas primeiras temporadas, como aquecimento pra terceira, e fiquei felizona de constatar que envelheceram muitíssimo bem.
7. Slow Horses (Apple tv)
Baseada numa série de livros, já está na terceira temporada e conta a história de agentes do serviço de inteligência britânico que, por causa de erros em suas carreiras, acabam rebaixados de posto e vão trabalhar em serviços de espionagem não muito glamurosos. Uma série de espiões com um finíssimo humor inglês e Gary Oldman em seu melhor papel em séculos. Totalmente viciante.
8. Rain Dogs (HBO Max)
Uma mãe solo alcoólatra em recuperação, que acaba de ser despejada de casa e tenta contar com a ajuda do melhor amigo, um herdeiro milionário lidando com o vício, a depressão e a falta de sentido na vida. Parece um grandíssimo e pesado drama, mas na verdade é uma série bonita e meio engraçada sobre amizades, as dificuldades da vida adulta, sobre as escolhas que a gente faz e coisa e tal. São oito episódios curtinhos que fizeram meu ano mais feliz, acredite se quiser.
9. The Bear (Prime Video)
Confesso que, de tanto que falaram desta segunda temporada (que demorou uns meses para chegar aqui), eu esperava um pouquinho mais, já que o primeiro ano da série sobre o chef de cozinha genial e perturbado foi excelente.
A temporada teve alguns dos melhores episódios deste 2023 (o da briga de família, o do incrível estágio do Richard, um episódio perfeito, e o da turnê gastronômica da Sydney, com o Marcus em Copenhagen), o que é bastante coisa. Mas também perdeu um pouco a mão tentando ser uma comédia meio pastelão (na reforma muito atrapalhada) e exagerou na pieguice da relação entre a equipe (e com a transformação do Richard de c*zão a homem honrado em uma semana), sem falar no namoro mais chato da década e no final megaclichê do cara preso na geladeira e tal. Mas, ok, o saldo foi bem positivo, no fim. Que venha o terceiro ano.
10. Abbot Elementary (Star+/Globoplay)
Comédia boa quase nunca começa boa: demora para a gente se apegar aos personagens (e daí as piadas fazerem mais sentido), demora para os personagens acharem o tom, para o roteiro ficar redondinho. Aqui não foi diferente: nesta sua segunda temporada, a série sobre professores de uma escola pública de ensino fundamental na Filadélfia se encontrou de vez. Boas risadas, historinhas de amizade e amor e personagens sensacionais tipo a diretora Ava e o zelador. Pra ver e ficar de bem com a vida.
fonte: g1